Dá-me preguiça arranjar a porta do armário, dá-me preguiça ir ao supermercado. Dá-me preguiça pensar em que música quero ouvir. Dá-me preguiça regar a planta que nunca mais cresce. Dá-me preguiça fazer uma reserva com tempo. Dá-me preguiça levantar-me e saber que quando me volte a deitar não terei feito nada, e nada terá mudado.
Dá-me preguiça ir a uma festa por compromiso, por isso não vou e fico como uma mal educada, porque me dá preguiça arranjar uma boa desculpa.
Dá-me preguiça ir comprar roupa interior, porque me faz pensar demais em se quem a vai ver, irá gostar.
Dá-me preguiça decidir que filme vou ver e por isso escrevo preguiçosa e esgotada como quem quer sair desta janela e abrir outra para cuscar o facebook. Dá-me preguiça que me preguntem pelos motivos dos meus posts, mesmo que adoro que o façam por pensar na veracidade das histórias. Dou-me preguiça, mas asumo-o.
Não me dá preguiça ouvir uma e outra vez a mesma música, não me dá preguiça ser "chata".
Dá-me preguiça procurar, mas não me dá preguiça que me encontrem.
Não me dá preguiça inventar, não me dá preguiça intercalar mentiras e verdades.
Não me dá preguiça a escritura automática. Não me dás preguiça quando falas, não me dás preguiça quando calas, não me dás preguiça.
Dá-me preguiça a preguiça alheia.
Não me dá preguiça dar masagens, não me dá preguiça dar nada, não me dá preguiça dar, não me dá preguiça receber.
Dá-me preguiça esperar, desespero-me espreguiçando-me, desespero-me esperando, desespero enquanto espero.
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